segunda-feira, 27 de julho de 2009

O navio

Quando o navio partiu, a sensação foi oposta. Enquanto diminuía rumo ao horizonte, o aperto no coração crescia. Pela primeira vez me atentei como boa parte dele estava submersa, ele nčo  utuava suavemente sobre o oceano, ele rasgava o mar em busca de seu destino. E não é isso que fazemos em nossas vidas? Mesmo que sigamos os conselhos de Affonso Romano de Sant’Anna e o  zermos com total delicadeza, ainda assim deixamos nossas marcas por onde passamos. Enquanto muitos se preocupam com as marcas que deixarão, ainda que com boas intenções, coitados, estas marcas não dependem apenas de quem as faz mas também de onde são gravadas.

A maioria nem se quer pensa nas marcas, se assusta quando com elas se deparam e por pensar apenas no porto a desembarcar acaba nčo apreciando as viagens. Porém, alguns poucos e raros, vão vivendo de horizonte a horizonte. E mesmo quando tudo é céu e mar, podem perceber a beleza singular de cada dia, achar o belo na trivialdade. As marcas que deixam não são mais superficiais, pelo contrário. Ainda assim, pousamos nossas atenções carinhosamente sobre elas e compreendemos que elas tinham que ser deixadas ali, para que cada horizonte pudesse ser visto com a beleza merecida.

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