sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Covardia

Amanhã é perfeito! Tudo pode acontecer amanhã. Não posso mudar o ontem, nem tenho que me mexer hoje. Existe amanhã!

Empháteia

No primeiro contato empatia, parece pouco, o mínimo para se relacionar com alguém. Mas empatia vem do grego empátheia que significa nada mais nada menos do que paixão. Pois é, eu já tinha uma paixão lá no fundo, só não sabia disso.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O navio

Quando o navio partiu, a sensação foi oposta. Enquanto diminuía rumo ao horizonte, o aperto no coração crescia. Pela primeira vez me atentei como boa parte dele estava submersa, ele nčo  utuava suavemente sobre o oceano, ele rasgava o mar em busca de seu destino. E não é isso que fazemos em nossas vidas? Mesmo que sigamos os conselhos de Affonso Romano de Sant’Anna e o  zermos com total delicadeza, ainda assim deixamos nossas marcas por onde passamos. Enquanto muitos se preocupam com as marcas que deixarão, ainda que com boas intenções, coitados, estas marcas não dependem apenas de quem as faz mas também de onde são gravadas.

A maioria nem se quer pensa nas marcas, se assusta quando com elas se deparam e por pensar apenas no porto a desembarcar acaba nčo apreciando as viagens. Porém, alguns poucos e raros, vão vivendo de horizonte a horizonte. E mesmo quando tudo é céu e mar, podem perceber a beleza singular de cada dia, achar o belo na trivialdade. As marcas que deixam não são mais superficiais, pelo contrário. Ainda assim, pousamos nossas atenções carinhosamente sobre elas e compreendemos que elas tinham que ser deixadas ali, para que cada horizonte pudesse ser visto com a beleza merecida.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Suave

Suave, talvez esta palavra tenha mostrado sentidos que nunca antes pude observar. Suave se refere aos seus traços, ao seu toque. Se refere também ao seu jeito de falar e se mover. Não que exista apatia, que não tenha vigor, mas é diferente. O combustível carbura internamente e se expressa em linhas suaves. Enquanto isso, cercado por toda suavidade, mergulho intensamente no precipício dos seus olhos.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Pensar

Pensando bem entendi a inutilidade do pensamento, sei que muitos acreditam no poder do pensamento positivo e tal, mas não quero discutir isso. Vou me limitar a dizer que as coisas mais importantes que vivemos não devem ser compreendidas. Quando acontecem temos que vivenciá-las e não pensar sobre elas. Quando entendemos algo é por que ele acabou, antes disso não podemos entender nada ou estaríamos nos precipitando. O que poderia fazer com algo que já acabou? Tem aqueles que se importam com o que já aconteceu, os que perdem tempo tentando entender, mas a estes não dirigirei uma palavra. Me interesso por quem percebe o instante, este infinito presente, presente não só no sentido temporal, mas também no sentido de dádiva, do que nos foi concedido. No instante podemos sentir pelos nossos cinco sentidos e ainda perceber sentimentos e sensações que nem pretendo saber de onde surgem. Minha intenção é vivencia-lás mais e de formas mais intensas, ir ampliando a percepção incessantemente até o ponto que não for mais possível. Então talvez eu exploda, deixe de existir. Quem sabe neste instante eu possa ser pensado, compreendido.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Centro

Já estava perto da meia noite e o frio fazia doer meus ombros contraídos. A Primeira, sensação que experimentei foi a insegurança. Depois comecei a me identificar com aquilo tudo, com o vazio que tomou as ruas do centro, a pouco ainda cheias de vida. Me compreendi naquele instante. Me sentia como aquelas ruas largadas ao vento frio e aos poucos pedestres que passavam de quando em quando sem nada a acrescentar. Olhava em frente e recordava da beleza e vivacidade de outrora. Porém, o que enxergava era uma sombra ambar do que foi e do que poderia vir a ser.

AMOR E SOLIDÃO

Amanhece em mim e sinto um raio solar
Iluminando vielas escuras de meu ser...
Um sonho dança em minha cabeça
Que percebe a valsa das esferas celestiais...
Sinto o amor se aproximar e vejo rosas
Em toda parte refletindo esperança...
Vejo a utopia e caminho em sua direção
Em busca da verdade...
Envolve-me a película do medo...
No alto brilha o sol indicando-me a solidão...
Recebo alegria, liberdade e êxtase...
Sozinho... sozinho... sozinho.

Odin

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O que o homem não pode criar

Talvez nunca venha a entender a dimensão do que representou para mim. Até por que, acredito que muitas coisas não se limitem ao campo do intelecto. Ainda hoje tento resgatar um fio do que sentia, talvez a definição mais próxima daquilo seria arte, algo como a capacidade de fazer com que os sentidos entrassem em comunhão e me levassem a algo antes para mim inimaginável. A beleza, a pureza e o amor eram tão intensos que cada piscar de olhos resultava em uma fotografia que jamais poderá ser revelada fora do meu cérebro. A visão por entre os olhos entreabertos na meia luz que delineava teu corpo se tornara uma paisagem mental que jamais poderia deixar de visitar e a melodia que os ouvidos se tornaram capazes de perceber, creio ser o som que ressonava no cosmos motivando Deus a dar forma ao universo.  O perfume não era de nada do que estava ali, mas ao mesmo tempo de tudo o que havia em um só tom. Em minha boca, não poderia distinguir o que seria gosto ou cheiro, distância ou toque. E o tato sentido que quase não me traz recordações me mostrava todo o seu poder. Por mais que tente encontar novamente algo que a isso se assemelhe, vejo que não está em minhas mãos, eu não sou capaz de fazer isso. Porque, infelizmente, o homem mesmo tendo criado tanta coisa, ainda não é capaz de gerar o amor.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Como lidamos com nossos problemas

Saí do carro com a embalagem vazia na mão. Brinquei com o homem que nos recepcionava na porta do bar. Logo que entramos algumas pessoas acenaram ao meu amigo no canto do bar. Cumprimentamos um a um. Depois fui levado a conhecer o bar. Um bar cubano, logo uma banda de salsa começaria a se apresentar. Nas paredes pintadas com cores calientes, fotos de Havana estavam espahadas. Estavam lá Fidel, Chê e até mesmo uma versão cubana do mestre De Rose. Rodamos por todo o bar mas não avistei nenhum cesto de lixo, por isso ao voltar a mesa continuava com aquela incomoda embalagem em minhas mãos. Coloquei-a sobre a mesa na esperança que a garçonete o recolhesse. O ventilador começou a levá-lo em direção ao rapaz que estava a minha direita. Sem encontrar uma solução definitiva, posicionei sobre o plástico a plaquinha de identificação da mesa em que estavamos. Não tardou muito e o rapaz da minha esquerda reavivou meu problema, tirou o peso que o imobilizava e a libertou para saracutear na mesa novamente. Eu estava convencido que havia tentado resolver a questão, fiz o que estava ao meu alcance e se não fosse o descuido daquele rapaz teria dado certo. Quando o ventilador chegou ao final do seu curso da direita para a esquerda, inverteu o sentido voltando a ficar alinhado com a embalagem e a impulsioná-la na direção do seu libertador. Ao sentir algo tocar as costas de seu antebraço esquerdo, em um movimento circular, deu-lhe um tapa. Jogando-o para perto da menina que estava mais a sua direita, ou a sua frente se considerássemos a posição do palco. Neste instante, percebi que aquilo não era apenas um papel circulando sobre uma mesa. Para mim era uma metáfora de como lidamos com nossos problemas, enquanto eu fingi que resolvi, quem estava ao meu lado apenas o passou adiante sem se perguntar qual sua relação com aquilo ou se preocupar com o que faria quem estava a sua frente. Sei que a culpa era minha, aquele problema fui eu quem criei.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sacrifício

Hoje ouvi uma pessoa me explicar algo inexplicável. O caso é que em sua fazenda havia uma cadela que estava lhe causando problemas. Havia matado algumas galinhas e como se não bastasse, atacado algumas ovelhas. Lhe castigaram, recebeu uma boa surra para não voltar a fazê-lo mas não havia aprendido. Por isso, me explicava, é que tiveram que sacrificar o bichinho. A palavra sacríficio vem do latim, apesar da b[iblia ter ligado esta palavra a morte, ela quer dizer sacro-ofício, tarefa sagrada. A morte daquele animal não foi um sacrifício, não foi uma obra para deus, foi um assassinato. Realmente é um problema ele atacar as galinhas e ovelhas, agora qual o direito que temos de condená-la a morte? Recebemos este direito pelo simples fato de raciocinarmos? Se sim, qual deveria ser a pena para quem executou a cadela sem se perguntar se isto era correto? Ainda ouvi que não entendo por que não tenho fazenda, mas para mim está claro: entendo, logo não teria uma fazenda. 

domingo, 25 de janeiro de 2009

"O escafandro e a borboleta"

"...como um marinheiro que vê a praia desaparecer, vejo meu passado reduzido às cinzas da memória."

Neste instante

Neste instante, há um velho na janela vendo a vida passar e um jovem defronte a uma tela esperando a velhice chegar.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

CAMINHADA

Riscos luminosos nas arestas do pensamento
Repouso íntegro na profecia do adágio,
Aconchego: aproximo-me do amor
Que se apresenta nos clarões de silêncio
Desenhados em meus passos tão leves
Que me fazem caminhar sobre as águas.

Poesia colhida do reflexo da eternidade
Batendo nas sombras do tempo, soprando
Nas flautas transversais sons transcendentais
Atravessando a linha do espaço para no regaço
Do ocaso abrigar a tez vermelha de arrebol.

Estranha sensação percorrendo a casa
De ser eu, por acaso uma cristalina palavra
Que venha libertar-me da dúvida trará-me
Um novo amanhecer no qual eu possa repousar
A face dos meus sentimentos que brotam
Das longínquas paisagens do “eu sou”?

Vejo riscos luminosos nas arestas do pensamento
Eles apagam as perguntas e levemente
Trazem-me repouso da dúvida.
Despertam-me em adágio matinal
Iluminando a manhã do meu imo
Com a luz de um sol Divinal.

Mergulho nos clarões do silêncio
E sendo o amor, de tão leve que estou
Vou caminhando sobre as águas...

Odin, 25/04/08 18:15

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Inacreditavelmente, pesco em meu poço de defeitos o que defino por felicidade

Vida Preenchida

Sou um ser com a vida preenchida
cheio de sonhos, amores e esperanças
repleto de amigos, colegas e amantes

sempre agradeço,
em cada instante,
pela abundância nesta vida errante

Ainda que pouco tempo me reste
dentre todos os afazeres
certa hora em silêncio grito
e me contorço e urro e suplico

há um buraco em minha alma 
e nele habita a dor,
habita a verdade e,
tudo o que existe 
e não sou homem de ver

Não há o que o preencha
pois todo universo nele está
e minha própria alma está lá,
nas profundezas de um buraco nela mesma

Opressor?

Ontem quando cheguei em casa, tinha um mendigo dormindo junto ao portão do prédio. Subi no meu apartamento, fiz um sanduíche, peguei um pouco d'agua e desci para entregar-lhe. Quando o chamei, ele se escondia e se protegia de mim, implorava que não lhe fizesse nada. Nunca havia visto ninguém com tanto medo de mim, foi horrível pensar que alguém é capaz de agredir uma pessoa que está numa situação que talvez, para o agressor, já seria insuportável. Deixei o sanduíche sobre a garrafa d'agua, perto de onde ele estava, desejei-lhe boa noite e saí. Até agora, meu pensamento continua ali.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Obrigado

Em uma noite de domingo fui tomado pela introspecção, não havia concentração para leitura, não existia foco no olhar. Tudo o que conseguia fazer era desconstruir minha vida e meus conceitos. Buscando justificativa ou embasamento para ser o que sou. Mesmo sabendo que não fugiria de mim mesmo não importa onde fosse, resolvi sair para caminhar. Com mais ar disponível retornei a desconstrução e acabei visitando vários momentos que representaram encruzilhadas em minha vida. Não que havia os visto assim, mas hoje olhando para trás sei que tudo mudou após cada um deles. A cada segundo tomamos decisões sem ter noção do que elas representam em nossas vidas. Isto é mágico. Não temos idéia da responsabilidade que carregamos e por isso temos direito a ilusão da felicidade. Pouco antes de pensar isto havia decidido sair para caminhar. Era tarde da noite, não me perguntei o que poderia acarretar esta decisão. E se um motorista embreagado subisse a calçada e me atropela-se? A primeira reposta que me veio a mente foi que minha vida teria valido a pena. Por que amei você, isto faz com que minha vida tenha valido. Pode ser que outras coisas venham a lhe agregar valor, mas se naquele instante fosse atropelado diria que vida é amor e eu havia vivido.
Errante ser,
Errante!
Ser errante,
mas não apenas ser

ser na concepção completa
errante como qualidade presente
de forma intensa e constante
interminavelmente errante

certo ao acaso
pois o acaso é certo
no certo instante
em que o certo vive

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

MOTIVO ALHEIO

Era o momento da criação
E a poesia estava quieta atrás
Da pena e à frente do papel
Não queria entrar em cena
Havia medo do signo do espanto.
No entanto eis que a cortina
Impiedosa ergueu-se e mostrou-me
Nua e rubra poesia rogando o silêncio
Já meio torpe, professava aos discípulos
Em pleno cenáculo que o discurso
Perdeu o curso, que os sons
Já não conseguem sentido.
Está em crise existencial
Já não sabe para que serve
Ou serviu. Almeja o silêncio,
Quer se calar mas está fadada
Ao eterno baile de palavras
Entrelaçadas nas linhas
Tristes ou engraçadas
Belas ou desgraçadas,
Como vinhas trazendo
Frutos doces ou amargos
Suas linhas que trepidam
Flutuam alheias ao poeta
Em veias desconhecidas
Circunscrevem o motivo
De seus versos terem
Existido.

Odin 29/01/07 21:15


Morre Lentamente

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Desencanto

Depois que o amor decantou,
não chorei mais com a dor,
a dificuldade de engolir cessou
mas também não olhei mais estrelas,
não comprei mais nenhuma flor...

Aprendizado

De longe eu acabei sendo tocado por vê-la daquele jeito. Nunca havia a visto antes, sua dificuldade em caminhar me inquietava. Queria ajudá-la, suas duas pernas eram fracas e o esforço tomava conto do seu rosto cada vez que uma tinha que passar em frente da outra. Comecei a me perguntar se isto seria sequela de um acidente, fiquei com muita dó daquela mulher de meia idade. Quando a cruzei tudo mudou, o que eu queria lhe dizer era parabéns! Era isso que ela merecia, compreendi que era ela que estava me ajudando me ensinando. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Encontros

Conversa de um amigo meu com seu filho após me encontrarem:
- Pai por que este cara fala daquele jeito?
- De que jeito filho?
- Ah pai!!! daquele jeito... (já um pouco irritado)
- Ah!!! É por que ele é paulista...- o menino fez cara de que ficou ainda mais confuso - ele não é gaúcho.
após breve silencio:
-hummm, coitado dele né?

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Pessoa

Já faz um ano, havia mudado de emprego e fui ficar provisoriamente na casa de um amigo meu. Para chegar ao escritório teria que cruzar São Paulo, da Zona Leste à Zona Sul. Entre outras coisas, nesta época aprendi que não existe nada tão anti-discriminação do que o transporte coletivo de São Paulo, nele branco ou negro, criança ou idoso, absolutamente todos sem distinção são expremidos, amassados e incorporados a massa humana a caminho do pão de cada dia, mas isso é outra estória. Na segunda feira, 6h40 da manhã, estava chagando na estação de metro quando cumprimentei um grupo moradores de rua, não entenderam, não responderam. Na terça feira, estavam lá, dois do que cumprimentara no dia anterior e um deles ao ouvir o bom dia que pronunciei, olhou para os lados procurando alguém que pudesse estar recebendo este cumprimento. Finalmente, na quarta feira, quando os cumprimentei ele abriu um sorriso e respondeu:
- Valeu pessoa, pra você também, que deus te abençoe.
Quase chorei, ele me tratou como quer ser tratado, me vê como pessoa, como queria ser visto.
"A cada dia que passa, aumenta minha sensação de que habito este planeta, mas não vivo neste mundo."

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

ELEVAÇÃO

Em profunda devoção sinto o som do Universo
E desvendo-te mergulhando dentro
Da canção dileta que teus olhos me ditam...
Assim me acho e me entrego ao silêncio
Revelador do interior de sua alma
Que vibra azul pela canção de nosso amor...
Aos poucos percebo tudo sorrir, sinto um rio
Afluir em veias desconhecidas do infinito
E um jardim de luz resplandece e me envolve,
Banhando-me de êxtase e convidando-te
Ao deleite do passeio... Seguro em tuas mãos
E vamos caminhando sentindo em cada passo
O compasso da natureza, o pulsar do mundo...
Uma orquestra toca o som do Universo
Que agora escutas comigo em profunda
Devoção... Luzes douradas, azuis e violáceas
Se apresentam: são anjos que entram ao som
De um magnífico Aleluia...
Uno meu corpo ao teu e nessa harmonia
Nos elevamos a Deus. (Odin 21/05/08 9:20)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Seres vivos

"O Deus átomo repousa nas rochas,
cresce nas plantas,
anda nos animais,
pensa nos homens,
ama nos anjos.

Por isso, respeite:

As rochas como se fossem plantas,
as plantas como se fossem animais,
os animais como se fossem homens,
e os homens como se fossem anjos."

(Inscrição rupestre encontrada da China datada em mais de 3000 anos)


"Por que os anjos tem asas como os pássaros, porque o homem tem pelos como os animais, e todos tem alma como Deus."

Não sei onde vi esta frase...

A alma errada

Há coisas que a minha alma, já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não h·... e quem È que hoje faz questão de virgindades...
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até
que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido...

Mário Quintana

Van Gogh - em Kurosawa's Dreams

"Uma cena que parece uma pintura não faz uma pintura. Olhando com atenção...
Verá que toda a natureza tem a sua beleza. E quando há esta beleza natural, eu simplesmente me perco nela. Então como num sonho, a cena se pinta sozinha para mim. Sim, eu consumo este cenário natural. Devoro-o completamente! E então quando termino... a imagem aparece completa diante de mim. Mas é tão difícil segurá-la aqui dentro."

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Esquecimento

Esqueço-me do que fui
Sem pensar no que serei
Sou sem pensar
O pleno esquecimento
Vivendo o eterno nascimento
Dentro da hora urgente
Do instante.

(Odin 25/09/08)

NASCIMENTO SILENCIOSO

Sinto em silêncio um flutuar de luzes
Violáceas. Percebo o ritmo das flores
Conduzindo a harmonia de tua alma feminina.
Escuto o sibilar sagrado conduzindo-me
A repousar no teu interior: abraço-me
Na branca flor-de-lótus que desabrocha
Mil vezes em minha pele quando deito-me
Dentro do teu Universo.
A serenidade manifesta-se quando contemplo-te
Para além do tempo-espaço.
Tuas curvas delicadas conduzem meus versos
Que brotam do alto do meu pensar-te minha.
Imerso em tuas delícias femininas
Recebendo calor do teu corpo carnal
Visito o teu ser-espiritual para subir
Aos mistérios do amor.

(Odin 13/10/08)

Manto Azul

Torno-me azul ao sentir a maresia
Escrevo poesia se fico em silêncio
E me torno poeta se visito o inefável...

Salvo-me do tempo subindo espirais
Da eternidade. Vejo os veios do mundo
E os palácios da sabedoria com seus anjos
Tocando a Lira da Harmonia.

Tudo é a verdade, tudo está em seu lugar
Nada é a verdade, nada está em seu lugar.
O Caos manifesta-se em mim e rodopio
Num movimento que me alonga até a beira do indefinido.

Desconheço a velocidade de ser eu:
Um turbilhão de dúvidas me visita.
Recorro ao silêncio e faço poesia
E tenho a resposta no inefável azul
Da maresia.

(Odin 25/09/08)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

levado

Na corredeira do instante,
palavras arrastam tudo o que vejo e sinto.
O denso submerge e pesa
como é difícil arrastá-lo.

O ar que me resta borbulha na superfície,
assim emerge ao mundo pequenas porções
das profundezas do meu ser.
A espuma suja, o marrom da terra revirada
indicam a tempestade que recém aconteceu.
Subindo os níveis da água
transbordando as margens da existência.

Talvez, quem sabe, na próxima curva
eu já não esteja de fora.
No verde limbo pulsante
das pedras que repousam,
vendo tudo acontecer.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Existem algumas palavras que não deveriam existir. Não sou ninguém para falar isso, mas não dizem que tem louco para tudo? Pois então, sempre tem alguém. Ninguém sabe disso? Certeza absoluta? Bom, se é certeza, já é absoluta. Logo nenhuma das duas palavras deveriam existir. Imagine o mundo se as pessoas não tivessem certeza, seria lindo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A luz

Era cinza aquele dia, o céu nublado naquela manhã de sexta feira criava uma atmosfera nostálgica. Um jazz denso rolava em meu mp3, enquanto observava pela janela do avião as casas e prédios ficarem pequenos. A mata formava lindos desenhos assim como os rios que a cortavam, mas a cidade se mostrava um amontoado de telhados e lajes não uniformes que pareciam disputar, assim como seus criadores, o espaço que existia entre eles, De repente já não podia ver mais nada, rapidamente as nuvens que viamos fazendo sombra lá embaixo estavam passando pela nossa janela, tomando nossa visão que seria totalmente bloqueada pela água condensada. Em pouco tempo veio a revelação, sim, eu vi a luz! Em poucos segundos ultrapassamos aquela camada e o sol iluminava o lindo e infinito azul do céu. Era como se estivesse em um dos dias mais belos que já vi. Naquele instante percebi que em nossas vidas é perfeitamente natural termos dias cinzas e tristes, que em meio nossos problemas podemos ficar incapazes de ver um palmo a nossa frente, cegos pela neblina de nossos sentimentos, mas que sempre, absolutamente e inegavelmente sempre, o sol e o céu azul estão logo adiante. Que não devemos temer, muito menos parar e que seguindo em frente, seguindo nossos objetivos, veremos tudo com clareza. Agora o trompete soa feliz!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Mangue (conto de 2000)

Era uma cidade pequena, perto da capital, o calor era assombroso e a umidade que o oceano proporcionava tornava ainda mais característico o odor do vilarejo. José tinha uma família relativamente grande, mas para os padrões da cidade era pequena, sua mulher Cleyde havia parido três vezes,
Três moleques que ela acreditava que ainda deixariam-na louca. Moravam em uma casa humilde feita de barro e pedra, onde já houveram telhas, papelão e plásticos hoje se revesam.
José, pacato trabalhador, diariamente ia a uma cidade perto de Recife, andava duas horas sobre a terra vermelha, sob um sol que subia rápido e gerava um calor que parecia causar incêndios. Chegava na cidade em busca de serviço, carregava caixas, descarregava caminhões, pedreiro, pintor, mal e mal falava mas por seus filhos seria cantor. Estava sempre disposto, um bico, um favor, nunca parava quieto estava sempre de bom humor. Cleyde não, amargurada, desesperançosa, estava sempre a reclamar, se não fosse algo dos filhos, um motivo sempre ela tinha. Os meninos iam crescendo e diferenciando-se cada vez mais, mas estes são peças raras e ainda terá o tempo em que hei de explicar. O mangue é inexplicável, ia crescendo, assustando quem o via, encantando quem o conhecia. Antes o mangue estava ali, adiante, com seus fascínios e temores, com seus bichos e seus odores, mas não parece querer esperar, dominou o que um dia José chamou de quintal, e era naquela lama, que um dia irá secar, virar terra vermelha que esta história irá acabar.
Francisco foi o primeiro, fruto da euforia, filho da carne ardente, de uma paixão que começará a despertar. Cleyde era uma criança com corpo de mulher, nunca havia visto um homem que lhe desse a oportunidade dela saber quem é. Não conhecia a ninguém, nem a ela mesma, órfã de mãe, o pai trabalhava de dia, bebia a noite e brigava nas horas vagas. Ela morava longe de tudo, cuidava da casa, da comida e apanhava. Mas estes dias estavam contados, pois todo homem valente um dia conhece alguém mais valante ainda. Certa vez seu pai não voltou e com o passar dos dias sua fome começou a ser incontrolável, e ela decidiu procura-lo. Logo no início da jornada descobrira que nada encontraria, que seu pai que era tão forte encontrara alguém com quem não podia. Sua fome agora se mesclava com os sentimentos de tristeza e de solidão. Mas ela não gostava daquele bêbado mesmo, acreditava que havia deixado sua mãe morrer no parto, e que além de bebedeiras só a desgraça o acompanhava.
Ela encontrara a ajuda de um rapaz simples, que lhe ofereceu pão e uma coberta. Foram vizinhos alguns dias, nos quais dormiram no chão. Cedo ele se levantava e corria lutar pela sua sobrevivência, se apaixonaram e ela engravidou. Resolveram então mudar para a casa de uma tia dele, que morava a poucos quilômetros dali. Suas rotinas não mudaram, ele trabalhava e ela cuidava da casa e de Maria, Senhora doente que logo viria a morrer. Nasce Francisco, menino bom, desde pequeno apegado na mãe e nos irmãos, que não tardariam a nascer. Não via a hora de ir trabalhar com o pai, ajudar a casa, ir para a cidade conhecer pessoas. Demer não, era bravo, estava sempre sozinho. Gostava de ir no mangue, brincava com caranguejos e conversava com urubus, jurava que eles o entendiam e que sua família de nada sabia. O caçula Luiz era o que mais se apegava a todos. Não duvidava de ninguém e fazia tudo o que pediam. Quando se mora afastado de todos não se sabe distinguir o certo do errado, não se acredita que um castigo é justo, nem ao menos para criar limites. Neide e seu complexo de desgraçada que não a deixava em paz, estava sempre se perguntando como era a vida em outros lugares, não sabia o que era felicidade, e tentava passar aos filhos tudo o que sabia. Pois lhes pergunto, o que ela sabia? O que teria aprendido com a dor? Estas experiências poderiam ser ensinadas?
Os três cresceram sofrendo, o pai ausente, pois precisava trazer alimentos, a mãe sempre amargurada, brigando e xingando, um sonhando em trabalhar, outro conversando com urubus e o último que só seria feliz com a felicidade de todos. José sim era feliz, sua família era saudável, ele nunca falhara em trazer comida, sua mulher o tinha como a única coisa boa que acontecera em sua vida.
Finalmente francisco fora trabalhar com o pai, a casa ficou ainda mais vazia, Saiam antes do sol nascer voltavam logo após o sol se por. Certo dia Demer se irritou com Luiz, pegou uma faca e sem pensar nas conseqüências, tentou apunhalar o irmão. Cleyde estava certa, sua vida era uma desgraça, mas não esperava o mesmo da morte, Sangrenta, lerda e dolorida. Fora atingida sem querer, cairá, e antes de perder a consciência ainda teria tempo de ver seu caçula cair ao seu lado, sem forças para se levantar. Ao chegar em casa, José e Francisco não encontraram ninguém, viram algumas manchas de sangue, se preocuparam, mas tinham de descançar. No outro dia, antes do sol nascer, foram trabalhar, enquanto o mangue avançava em direção a sua casa.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Covardia!

"Esta manhã, você ainda dormia quando eu acordei. Ouvi sua respiração profunda. E, atravéz do cabelo que escondia seu rosto, vi seus olhos. Eu engasguei de emoção. Além do seu rosto, pude ver algo mais puro e mais profundo no qual eu me via refletida. Eu via a mim mesma. Numa dimensão que continha todo o tempo que nos resta de vida. Todos esses anos estavam lá. Também havia os que vivi sem conhecer você... para conhecer você.. Naquele momento, percebi como amo você. A emoção foi tão intensa que meus olhos se encheram de lágrimas. "

Texto do filme de Théo Angelopoulos, em " Cada um com seu cinema"

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Como alguém pode se sentir sozinho? Mesmo que vá para outra cidade, outro estado ou outro país onde não conheça ninguém, ainda assim terão centenas de pessoas nesta mesma situação, portanto não estará sozinho. E logo, conhecerá várias pessoas, tem a moça que serve o café, o garçom que serve o almoço, tem o porteiro que verá sempre, como se de certa forma guardasse sua vida. Ainda que não tenhas ninguém ao seu lado neste momento, você tem a leitura, tem os filmes e tem a música, sempre te lembrando de alguém.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Woody Allen

A recepção dada a "Vicky Cristina Barcelona" vem sendo boa. Isso deve ser gratificante.

Se você não tivesse mencionado isso agora, eu nem ficaria sabendo. Terminei este filme há vários meses, e, quando termino um filme, não sinto mais o menor interesse nele. Já recebi ótimas críticas de filmes que não ganharam um dólar nas bilheterias. Recebi críticas negativas de outros, e isso nunca significou nada. O fato de lhe chamarem de grande não faz você ser grande, e o fato de dizerem que um trabalho é terrível não o torna terrível.

Eu me lembro de, anos atrás, voltar para casa depois de ter um grande triunfo com "A Última Noite de Boris Grushenko" ("Love and Death") e, mesmo assim, a garota do apartamento em frente não quis sair comigo. Eu estava em casa, sozinho, comendo comida chinesa diretamente da embalagem, sem nada a fazer exceto assistir à televisão. O sucesso nunca significa nada.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Estranho

É domingo e chove incessantemente lá fora. Estou preso em um apartamento mas, mais do que isso estou preso em minha mente. Meus pensamentos são livres para irem aonde quiserem, podem ir a praia e transformar esta chuva em sol, podem me colocar ao lado da companhia que quiser, mas eles insistem em passear por dentro de mim mesmo. Em tentar entender o porque deles mesmos, assim como a questão do ovo e da galinha, um gera o outro e o outro gera este um.
Penso então em ser estranho e concluo que só por pensar isso já sou estranho! Mas acho ainda mais estranho quem não pense assim. Caierio dizia que a beleza da natureza e dos animais era exatamente por não pensar em nada, em apenas ser, mas e o ser humano? Terei o direito de não pensar? terei esta capacidade? É estranho pensar que sou estranho mas não poderia ser diferente, acho estranho por exemplo, as pessoas não se perguntarem de onde vem o que elas comem e me acham estranho por fazê-lo, acho estranho pessoas acenderem um enrolado de cancêr em potencial, para fazer fumacinha fedida em nome de um prazer que poderia ser obtido em outras fontes. Mas definitivamente, é estranho alguém ficar pensando sobre isso, sozinho em uma tarde chuvosa de domingo.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Quebrou!

Queria escrever algo maior e melhor, algo que fosse realmente bom. Algo que tivesse alguma utilidade. Mas que outra utilidade teria algo escrito se não ser lido? O mesmo conjunto de simbolos que nos possibilita viajar pelo imaginário também documenta as leis que nos limitam. Assim como as propagandas que com tanta criatividade nos prendem ao ignorante consumo. Percebo que cada vez que posto, encho meus textos de perguntas, mas o que mais poderia fazer? Neste fascinante mundo em que a arte convive com a miséria já não é incomum que eles se fundam em um retrato da inimaginável realidade. Estava pensando, imagine que seu carro está quebrado. Você está parado desesperado, quando para alguém e identifica o defeito. Logo, esta pessoa se vira pra você e começa a dizer o quanto ele discorda do processo de fabricação da peça em questão, te fala um monte de problemas da fábrica que a produz e então vira as costas e vai embora revoltado. Pois é, isto é o que estava pensando. Isto é o que estamos fazendo a séculos, ao diagnosticar os problemas na sociedade. Se não podemos mudar estas fabricas, então pelo menos arrumemos os carros, milhares de pessoas se sentirão agradecidas.

domingo, 29 de junho de 2008

Embreaguez

Estou completamente embreagado. Meus sentidos reagem diferente e minha mente enxerga coisas que nunca tinha visto. Em meio ao turvo, ao denso e ao profundo não sei se devo escrever sobre a causa ou sobre os efeitos de minha embreaguez, além do que não sei se faria algum sentido. Mas quem disse que existe algum sentido? Bom, volto ao tempo então, recordo meus últimos instantes de lucidez. As luzes, as cores, os movimentos dos artistas no palco e o som, sim o som, foi ele que me embreagara. Assim como agora confundo os tempos verbais, o passado e o presente se misturavam tentando criar uma nova concepção de futuro. Ah, como era boa aquela sensação tudo causado por uma overdose de notas que culminava no final de um dia riquíssimo em experiências, um dia em que devo agradecer pelas companhias que tive o prazer de desfrutar, de tudo que vivenciamos e pudemos imaginar, e claro agradecer a capacidade da música de nos levar a um estado tão intenso de consciência,

terça-feira, 24 de junho de 2008

Diz-se que o amor é cego. Porém, é no abrir os olhos que vive o despertar de um novo amor...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Não Matarás - Kieslowski

Ontem, olhei atravéz de lentes já ultrapassadas, o amarelo invadia as cenas que com suas cores dessaturadas me levavam ao leste europeu da década de oitenta. Os costumes, as angústias ou os absurdos que eram cometidos em minha frente contrastavam com a beleza de cada cena, assim como as áreas claras contrastavam com os cantos negros, densos e desfocados onde constantemete o protagonista adentrava. As músicas que ecoavam, faziam parte de um cenário meticulosamente construído para servir de palco para a miscigenação de nossos sentidos, sentimentos e reações. Quando o protagonista sai da luz - única cena em que realmente existe o branco no filme - e caminha
para sua morte, me senti no caminho oposto pois a luz que estava no fim do corredor para mim representou a descoberta de uma obra fascinante!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Retrato Urbano

Realmente o inverno chegou, a temperatura nos convida a ficar em casa, mas não. Não aceitei o convite e saí. Nas ruas milhares de pessoas em seus carros fazendo o contrário, algumas moravam na direção que eu seguia causando uma luminosa lentidão colorida no retrato urbano onde interagia. Dentro do onibus observo de longe as pessoas e suas faces, seria possível descrever o dia de cada uma delas pela posiçåo das sombrancelhas, pelo modo que gesticulam ao falar. Cheguei ao destino e agora, mais de perto, converso com uma amiga. Ela também tem algo no semblante, também gesticula ao falar e quanto mais ela fala mais percebo que não sei de nada. Nem sobre ela, nem sobre aquelas pessoas a quem observava e nem sobre o que sei. Mas em um ponto espero não estar enganado, quando a temperatura cai, é o calor humano que pode nos aquecer.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Manhã gelada

Na calçada o vento gelado parecia cortar a face, seguia de encontro a ele em rumo a rotina. Sinto um toque sutil em minha face, não toda ela, só determinada região é acariciada com um calor. Paro instantaneamente, não sei ao certo se simplesmente me entrego a sensação ou se busco compreendê-la. Tudo é muito rápido, sinto, mas é inevitável e procuro de onde vem o toque. Então entro em extase, com a inavreditável sincronicidade da natureza naquele instante, As nuvem são levadas pelo gélido e forte vento, abrindo espaços no céu azul fantástico - pois não há nome para aquele tom - que são preenchidos pelos raios solares que não são brancos nem amarelos e que cintilantes oferecem seu calor a pele enrigecida pelo frio. Nunca se repetirá um momento como aquele, a sensação experenciada naquele instante é única, como sua lição, como cada segundo de nossa preciosa vida. Abro os braços e me entrego ao amor a vida. Os transeuntes olham de esgueio e riem com o canto das bocas, este cara só pode ser louco.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Mandamento de Dionísio

Não negarás
As delícias da carne
A quem abriste
Os céus de tua alma.

Adalberto Monteiro

Enviado pela Camarada Araújo

Show! (Miúcha e Galo Preto)

Acredito que a única coisa que não podemos ouvir é a música. Não podemos limitá-la a audiçåo, ela deve ser sentida. Cada vez que nossos pelos se arrepiam, é sinal de que nossos poros se dilataram para absorve-la e o calafrio, que nos estremece, indica que ela chega ao seu destino. Envolto neste véu sublime as lágrimas escorrem, comungando a relação entre o corpo e o espírito, entre o humano e o divino, entre o céu e a terra. Ontem, tive o prazer de experimentá-la, mais uma vez, obrigado!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Cortina de fumaça

Confundimos! Vivemos em uma confusão semiótica! Ícones, índices e símbolos na prática não são a mesma coisa? Não, não é sobre isso que quero falar! Eu quero falar é sobre o quanto nos enganamos, colocando no outro a responsabilidade pela nossa vida. Nossa vida é exclusivamente o que fazemos, o que as pessoas a nossa volta fazem de pouco valem, o que importa são as atitudes que tomamos em relação a isso. Nossas maiores confusões residem na intersecção das vidas, pois todos estamos relacionados e podemos ser influenciados por um todo. Criamos alguns vínculos que parecem fundir nossas vidas com outras e acabamos não nos dando conta do que é a individualidade. Este individualismo que digo difere completamente do egoísmo, pois o ego é quem mais se magoa com as confusões citadas acima. Bom, crio uma névoa sobre meus conceitos, vivo na confusão. Porém, sei que para encontrar a verdade tenho que olhar para dentro.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Entrega

Me larguei em uma esquina como outra qualquer, olhando para o mesmo céu que nos cobre por toda eternidade, imaginando que fosse um outro, um outro que jurava ter visto em outros tempos...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

OBRIGADO

Equilbristas, sim! Nascemos e a partir deste instante, nos equilibramos entre o foi e o será, sobre a fina linha da incerteza. Sim, o hoje é um dos grandes paradoxos do mundo, na verdade é o único dia que existe, mas mesmo assim o daqui a pouco já mora mais em sua casa. Agora, é o único momento que tenho para digitar tudo isso, por isso não vou pensar melhor a respeito. Escrevo e ponto. Nem sempre podemos sentir o quão incerto é o amanhã e poucas vezes agradecemos quando o hoje se revela o que esperavamos ontem. Fantástico seria se ao invés de nos escondermos dentro da pseudo segurança do cotidiano, vivessemos.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Temos que libertar o amor das 4 letras em que foi aprisionado. O amor é para ser vivido e não falado, sentido e não sonhado. O amor não é só aquele do conto, do livro, da fábula.... Cada amor tem sua própria vida, assim como existem milhares de mulheres únicas chamadas Maria. Cada uma com suas qualidades, cada uma com seus defeitos, cada uma com suas histórias, cada uma com seus amores...

sábado, 19 de abril de 2008

Trabalhando com afinco noite a dentro, em determinado momento percebi que já não era mais noite, ouvia Tom Jobim e enquanto tocava "Retrato em branco e preto" desviei o olhar daquele inanimado monitor. O dia amanheceu cinza aquele dia. Na rua antes tomada pelo nada, carros já começavam a transitar, e eu continuava ali trabalhando. O ruído dos carros passando lá embaixo da avenida começou a se itensificar e junto com ele a sensação de que não estava mais só. Não, eu não era o único maluco atarefado que estava acordado trabalhando naquele instante. Tornei a olhar para o céu e, uma tonalidade rosa passava a ser refletida em todas as paredes claras e vidros dos prédios a minha volta, o cinza já não era cinza, alguma coisa estava mudando, mas os carros continuavam passando sem se dar conta disto e eu, ah, eu nada poderia fazer para alertar-los pois tinha que continuar tabalhando.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

O valor da verdade

Cheguei em uma loja de conveniência lá estava ela, a barra de cereal que eu ansiava comer. Logo abaixo, na cara da prateleira uma etiqueta com o preço do meu desejo fixado: R$ 1,99! Não, não é que a barra de cereal está cara, na verdade está até barata pois é uma embalagem daquelas pague duas e leve três pelo preço que estas três deveriam custar. O que me ocorreu é que independentemente do marketing dos preços dizer que as pessoas relacionam o R$1,99 com um real e não com dois, ninguém nesta loja pretende me dar o meu centavo de troco. De fato, não teria muito o que fazer com ele e não me fará falta mas, o que me incomodou neste momento (e tenho certeza que continuará impragnado em mim cada vez que for comprar algo) é que por um centavo eles poderiam falar a verdade.